quinta-feira, 31 de março de 2011

O fracasso dos colóquios doutrinários com a Fraternidade São Pio X e a questão de um “ordinariato tradicional”


A Comissão Teológica da Fraternidade São Pio X no balcão do Santo Ofício

Os colóquios doutrinários entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X – isso já não é  segredo para ninguém – estão longe de caminhar no sentido esperado. Os tons entusiastas se apagaram e as belas esperanças parecem definitivamente ultrapassadas, de um lado como de outro. Nos corredores do Vaticano, reapareceu uma expressão que não se ouvia há muito tempo: alguns dizem que “a Fraternidade é um cisma, eles estão fora da Igreja”. E, no entanto, depois de dois anos de discussões regulares, vai ser preciso encontrar uma maneira de sair disso com a cabeça erguida. As soluções possíveis não são muitas e aquela que parece a mais plausível é que, antes do verão, Roma proporá a Dom Fellay que assine um documento, assinatura que será acompanhada da proposta de uma estrutura canônica ideal: a de um ordinariato pessoal com isenção em relação aos bispos diocesanos.

As discussões já duram dois anos agora, mas os esclarecimentos doutrinários e magisteriais sobre o Concílio e o pós-Concílio não avançaram uma vírgula. Entre mil declarações, não se sabe nem mesmo, ainda hoje, se Dom Fellay já aceitou o Concílio, a fim de obter o levantamento das excomunhões: não somente a carta que pedia essa revogação da condenação – embora esta tenha sido acertada, de forma bilateral - nunca foi integralmente publicada, mas dois textos diferentes circulam ainda (sem que ninguém se escandalize disso). No primeiro texto, os quatro Bispos afirmam aceitar todos os Concílios até o Vaticano II, com certas reservas, enquanto na segunda versão, distribuída aos fiéis um pouco mais tarde, eles afirmam, ao contrário, reconhecer apenas os Concílios até o Vaticano I. Roma também não publicou até agora a versão oficial da carta em sua integridade, o que seria, no entanto, um bom ponto de partida para que as posições respectivas sejam conhecidas, sem mal entendidos. Mas no momento prefere-se – dos dois lados – falar de discussões doutrinárias “de alto nível”.

Foi a Fraternidade que pediu encontros doutrinários, dos quais deveria sair uma solução aos problemas criados pelo Concílio Vaticano II. De dois anos para cá, ela aposta na alta, ignorando as propostas de Roma, propostas que não eram tão inaceitáveis como se diz: a Fraternidade não quis se contentar com tornar-se um organismo canônico sui iuris,  com a liberdade de discutir teologicamente sobre certas dificuldades da teologia moderna (e sua influência sobre certos atos oficiais não infalíveis) e a faculdade de celebrar exclusivamente a “Missa gregoriana”. Não, ela pretendeu bem mais, ela quis que Roma se comprometesse no terreno teológico: a Sé de Pedro deveria ter mesmo reconhecido publicamente seus erros diante de seus inferiores, como condição prévia a qualquer eventualidade de um acordo prático. Assim, há dois anos, a Fraternidade alimenta a hostilidade entre seus próprios padres e fiéis, apresentando qualquer acordo que precedesse uma conversão de Roma como uma traição da Fé. Essa política levou a certos resultados – desejados ou não, não é nosso papel julgar – mas é um fato que em 2011 há na Fraternidade mais hostilidade a um acordo que em 2001, logo depois do Ano Santo.

Em 2009 apareceu o projeto dos colóquios doutrinários entre os dois partidos, como quando na Idade Média se afrontavam os partidários de Duns Scoto e os tomistas, mas desta vez, no maior segredo. A Fraternidade se apressou, no entanto, em lembrar que “sobre a verdade não se negocia: não haverá nenhum compromisso”. E ela escolheu seus representantes por um critério que parece mais o da rigidez austera que o da afabilidade diplomática... e os teólogos de Ecône atravessam então os Alpes, em várias ocasiões, para ajudar Roma a se converter. “Nós não vamos a Roma para fazer um acordo, pois não há acordo a fazer entre a verdade e o erro. Roma deve se converter. E quando ela se tiver convertido, aí os obstáculos a um acordo canônico terão desaparecido”. O próprio Dom Fellay nunca se distanciou claramente de tais declarações, cujos autores eram aqueles que ele tinha pessoalmente escolhido para discutir “respeitosamente” com a Sé Apostólica.

Roma, nesse momento, cedeu em relação a essa agenda e se engajou nesses debates teológicos, com intenções mais diplomáticas que científicas, compreende-se facilmente. A conseqüência, que todos podem agora constatar, é que o conjunto da problemática do rito tradicional, e da Tradição em geral, se concentrou sobre o único “caso” da Fraternidade São Pio X, em lugar de consistir em uma ajuda concreta para apoiar canonicamente os que estavam já reconhecidos... O que teria como conseqüência  encorajar, com isso mesmo, a Fraternidade a fazer um processo semelhante. Tal concentração do problema, no fundo,  é aliás menos exigente para Roma, que pode tratar a coisa como se fosse apenas uma desacordo com um grupo de cismáticos turbulentos. Dessa decisão, que traduz todo um estado de espírito, segue-se entretanto, do ponto de vista prático, um desequilíbrio completamente insensato, segundo o qual a Comissão Ecclesia Dei e juntamente todos os que dependem dela, no lugar de ser reforçada e confirmada em suas prerrogativas e sua autoridade,  encontrou-se reduzida a um simples órgão da Congregação para a Doutrina da Fé,  e cuja atividade parece se limitar a favorecer o sucesso dos encontros com a São Pio X, ou mais exatamente, com os mais intransigentes da Fraternidade. Entenda quem puder, mas o resultado é grotesco: toda a “questão tradicional” é hoje suspensa aos caprichos da ala dura da Fraternidade. E os bispos podem tranquilamente não se sentir implicados pelo problema, pois é preciso esperar, dizem eles, que Roma regule definitivamente essa questão.  Ao ponto em que o Osservatore Romano, por exemplo, se permita por em dúvida a ortodoxia dos institutos dependentes da Ecclesia Dei, jogando sobre esses – e sobre ela – o descrédito. A situação está portanto, hoje, ligada às futuras escolhas de Dom Fellay, que após haver desacreditado a solução prática, se encontra assim mestre da situação, bloqueando com isso o desenvolvimento de todos os “traidores” como eles dizem com desprezo, que escolheram se reportar a Roma e que assim naufragaram no terrível “pecado de acordismo”.

A situação, no fim das contas, é um pouco como a de certas guerras infames, em que os mercenários dão tiros de canhão, explodem pontes, ferem o inimigo e depois se retiram para a montanha, deixando os civis à mercê das inevitáveis represálias. A Fraternidade São Pio X atira para matar, de cima das muralhas de sua total independência diante de toda autoridade eclesiástica, em particular a dos bispos.  E seus altivos feitos de armas não tem outras conseqüências que as represálias sobre os Institutos Ecclesia Dei , os quais – devido à escolha que fizeram  - são afinal os únicos vulneráveis, para a maior alegria dos primeiros, que os observam do alto de suas fortalezas. Mas Roma temporiza, sem se preocupar em ajudar os seus, e as respostas são sempre as mesmas: “é preciso ter paciência”, “não é o momento de dar garantias canônicas aos Institutos Ecclesia Dei”... a urgência, para eles, está em outro lugar.

Estamos, portanto, no fim dessas discussões, dois anos passados. Houve conversações, textos e refeições quase simpáticas, mas, evidentemente, nenhuma solução. Nem uns nem outros se converteram. A Santa Sé queria de todo jeito que os textos do Concílio fossem interpretados à luz da Tradição, no sentido de uma evolução homogênea; os outros sustentam, ao contrário, que certas passagens são definitivamente heréticas (ou concedem eles, favens haeresim) e que é preciso, portanto, excluí-las do Magistério, e com elas todo o Concílio que as adotou. Esta seria uma condição sine qua non anterior a qualquer acordo: contentar-se em exprimir reservas teológicas, remetendo o julgamento final à Santa Sé – como fez o Bom Pastor – seria uma traição. Os conteúdos heréticos seriam numerosos, mas jamais uma lista de textos problemáticos foi exposta de maneira definitiva. No fundo, mesmo a Fraternidade sabe disso, os textos em questão pecam bem mais por suas ambigüidades do que por suas heresias. Mas para admiti-lo, seria preciso que eles aceitassem ser taxados de “liberalismo” por sua própria ala dura, segundo o vocabulário que eles mesmos adotaram, adaptando-o à situação.

O fim dos debates não trouxe, porém, nenhuma aproximação: os “romanos” deixam escapar que os teólogos da Fraternidade não tem nível para discutir e que sua formação neotomista os fossilizou nos anos 30. A acusação não carece certamente de fundamento, mas é uma forma um pouco rápida, rápida demais, para evitar de ter que enfrentar os verdadeiros problemas que afligem a Igreja há quarenta anos. Do lado de Ecône, acusam-se os teólogos romanos de estarem de tal forma impregnados de “Nova Teologia” que todas as suas fórmulas, mesmo as mais tradicionais, nunca são aceitáveis já que podem sempre esconder, sob termos acima de qualquer censura, noções traiçoeiramente modernistas... o que as torna tanto mais perigosas. Maneira desonesta igualmente de evitar toda verdadeira confrontação – mesmo que esse julgamento contenha algo de verdade – mas que lhes permite passar, com baixo custo, por defensores sem falhas da ortodoxia.

Chega-se, desta forma, a um impasse por ter pretendido obter uma solução “doutrinária”, em lugar de se contentar de pedir garantias realistas, para poder serenamente realizar o que Dom Lefebvre – de uma maneira bem mais sábia e ponderada – tinha definido como “a experiência da Tradição”. Quis-se fazer mais que o necessário, quis-se “converter Roma”. E agora que Roma não quer se deixar converter, chega-se à beira de uma ruptura, ruptura à qual se dará evidentemente o nome reluzente de “doutrinária”, mas que será, de fato, apenas o resultado de um grave erro de orgulho e de imprudência.

A Santa Sé vai propor, portanto, à Fraternidade um ordinariato pessoal (ou algo equivalente), para tentar sair desse impasse. Então ela deverá escolher, e terá somente duas alternativas, tanto uma quanto a outra melhores do que a terceira, que é aquela do equívoco contínuo.

No primeiro caso, a Fraternidade aceitará o estatuto canônico que lhe é proposto. Sem renegar as justas batalhas que conduziu no passado, ela deverá então definitivamente se separar de certa mentalidade sedevacantista ou galicana, e das tendências de “Pequena Igreja” que ela arrasta após si. Ela deverá também entrar em um novo estado de espírito, no qual os bispos diocesanos não devem ser sistematicamente tratados com desprezo, como se eles fossem automaticamente inimigos da Igreja, somente porque celebram a Missa de Paulo VI. Infelizmente, os últimos acontecimentos na França e as declarações desconcertantes de vários superiores da Fraternidade levam a crer que já é tarde demais para esperar essa mudança de tom. Como quer que seja, isso consistiria em aceitar o acordo prático, ou “canônico” se se prefere, mas em situação bem mais problemática que ontem, à força de ter puxado a corda em todos os sentidos.

Na segunda hipótese, a Fraternidade recusará as proposições do Soberano Pontífice, invocando uma explicação ideal: é impossível chegar a qualquer acordo doutrinário sobre os textos do Concílio. Mas então Dom Fellay deverá, por dever de justiça e por amor da verdade, assumir as responsabilidades de suas escolhas e reconhecer que tal acordo doutrinário – que na época Roma não tinha lhe pedido – fracassou e tornou, por causa de suas próprias exigências, a situação atual bem mais complexa do que era anos atrás. Tal escolha teria, ainda assim, um aspecto positivo: acabar com as ambigüidades e com a linguagem dúplice. Essa seria a posição mais coerente com os últimos posicionamentos no interior da Fraternidade, que após o anúncio de Assis III, da beatificação de João Paulo II e das declarações do Papa sobre o preservativo,  gritam escandalizados e afirmam que a conversão exigida de Roma não se realizou. As coisas se tornariam, nesse caso, mais claras: aquele que quiser permanecer “romano” saberá finalmente o que fazer e não lhe restará outra alternativa que abandonar a Fraternidade às elucubrações sem fim de um zelo inoportuno. Roma dirá que a Fraternidade abandonou definitivamente a Igreja e já está se falando nos últimos dias, em Roma, de atitude cismática. Mas lamentar-se de um cisma não será fácil, quando de fato nunca se tornou possível, de maneira segura e serena, a experiência da Tradição, já que ela nem mesmo foi seriamente tentada com os organismos existentes. A fraqueza de Roma, é verdade, tornou-se crônica, ao ponto que uma norma aplicativa para o Motu Proprio, que deveria sair em janeiro de 2008, fará possivelmente sua aparição na primavera de 2011... mas ao mesmo tempo se esboçam faraônicos projetos de acordo com a ala dura da Fraternidade, quando não se consegue nem  mesmo defender aqueles que já realizaram tal acordo.  Quando se deixa expulsar de uma diocese um Instituto tradicional  reconhecido, pela única razão de que um padre ousou ensinar um pouco de catecismo a algumas crianças; quando o “plano pastoral diocesano” prefere confiar uma paróquia a um grupo de leigos antes que a um padre de batina “porque esse seria assimilado aos lefebvristas”;  quando os grupos estáveis são submetidos a contínuas pressões e interrogatórios que os obrigam a adotar atitudes que eles não aceitam em consciência, a fim de obter (ou por medo de perder) uma “concessão” sempre instável - tudo isso no silêncio geral - fica cada vez mais difícil explicar a pais, a seminaristas e a padres que eles devem abandonar a posição, em certo sentido bem mais confortável e mais fácil, representada pela Fraternidade São Pio X.

Roma deve tomar a iniciativa e não mais aceitar a imposição de uma linha de conduta pelos planos de Dom Fellay. Não está se pedindo o impossível, pede-se apenas a possibilidade de fazer séria, tranqüila e livremente o que Dom Lefebvre chamava “a experiência da Tradição”. Que Roma dê ao menos essa possibilidade àqueles que querem fazê-lo, sob a autoridade do Papa! Aquele que quer combater pelo bem da Igreja é bem vindo: se a Fraternidade se sente envolvida, todos esperam, pela Igreja, seu apoio. Mas é o Vigário de Cristo, e ele apenas, que recebeu de seu Divino Fundador os instrumentos necessários para “salvar a Igreja” na crise que ela atravessa. E não há necessidade, para salvar o “navio que faz água por todos os lados”, daqueles que se acreditam indispensáveis. Mesmo em nosso dever de respeitar antes de tudo o primado da verdade, é sempre a Igreja que nos salva e não é para nós, por mais inflexíveis e puros que possamos ser, o papel de “salvar a Igreja”.
Quinta-feira, 31 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

BENTO XVI E A ESPERANÇA

Alberto Luiz Zucchi
O recente noticiário a respeito da publicação possível e provável de uma Instrução da Comissão Ecclesia Dei a respeito do Summorum Pontificum deu novo alento à onda de comentários sobre a atuação do Papa Bento XVI. Esta discussão já havia tomado os ambientes chamados de tradicionais, especialmente os da Internet apesar desta não ser tão tradicional, desde o anuncio de uma nova jornada de Assis.
A leitura de muitos dos comentários me trouxe saudades do nosso Professor Orlando Fedeli (que, depois de tantos anos, nos acostumamos a chamar simplesmente de o Professor) .
Recordei-me de quando ele se referia a um fato do Antigo Testamento no qual um israelita vendo que a Arca da Aliança parecia tombar tentou segurá-la. No mesmo instante foi fulminado e morreu, porque era proibido tocar na Arca. Contava-nos o Professor que São Tomás ensina que este homem não cometeu pecado, mas com este fato Deus quis mostrar que os homens precisam ter confiança nele e mesmo quando parece que a Igreja “vai cair” não é permitido tomar iniciativas que são reservadas ao Clero. É necessário ter esperança na Providência.
Deus de nós exige confiança. Os apóstolos acordaram Nosso Senhor no meio de uma tempestade no mar, com medo de que o barco afundasse. Eles pediam um milagre e acreditavam que Nosso Senhor poderia fazê-lo, mas apesar disto eles foram repreendidos: “homens de pouca fé”. Não tiveram paciência de esperar o momento adequado que só Nosso Senhor conhecia.
Assim, em nossos dias, parece que muitos gritam contra o Papa na esperança de acordar Nosso Senhor, e parecem não ver que ainda dormindo ele pode agir, mesmo através de um Papa que outrora tenha sido um grande modernista. Um claro exemplo de querer “segurar a Arca” pode-se ver na absurda ampliação do chamado “estado de necessidade” que permitiu a alguns a criação de tribunais religiosos paralelos à autoridade papal, que se permitem declarar a nulidade matrimonial. E não duvido que, no futuro, possa ser a justificativa até para a criação de institutos religiosos e dioceses.
De fato o Professor tinha muita esperança de que Bento XVI seja o Papa que, de acordo com um dos sonhos de Dom Bosco, após uma grande luta, traria de volta a barca da Igreja para amarrá-la junto às colunas da Eucaristia e de Nossa Senhora. Isto não significa dizer que o Professor apoiasse todas as iniciativas do Papa. Ele jamais apoiaria o encontro de Assis,  e certamente não estaria de acordo com qualquer restrição à Missa Antiga. Mas certamente o Professor não esteve e não estaria entre aqueles que pretendem segurar a “Arca”.
O que levava o Professor a ter esta esperança em Bento XVI?
Creio eu que uma primeira razão pode ser encontrada na própria vida do Professor.
Não conheci ninguém que tivesse sido um instrumento de Deus, como foi o Professor, para operar tantas e tão profundas conversões. Digo instrumento porque ele foi o meio que Deus utilizou para realizar essas conversões. O próprio Professor não se cansava de repetir isto. Assim, o Professor sempre tinha esperança nas conversões mais difíceis e muitas vezes elas aconteciam. Desta forma, o fato de Bento XVI ter sido um teólogo modernista, de maneira nenhuma se constituía em um impeditivo para que o Professor acreditasse em uma possível mudança de posição. Talvez seja a falta da experiência de ter realizado coisas aparentemente impossíveis, a razão por que muitos não acreditam que Bento XVI possa ser o Papa que, de forma vacilante e cambaleante, como na visão de Fátima, esteja a caminho de uma montanha encimada por uma cruz.  Como exemplo podemos citar o Sr. Sidney Silveira, que declara concordar em muitos pontos com o Professor, mas discordar dele neste assunto. Assim, nesse aspecto – só nesse aspecto! -  ele se posiciona  mais próximo das opiniões de representantes da Fraternidade São Pio X.
Mas, o Professor citava outras e mais importantes razões para se ter esperança em Bento XVI, sempre lembrando que, segundo outro sonho de Dom Bosco, o tempo de afastamento da Cidade Santa é o mesmo tempo que demoraria para o retorno.
Uma destas razões é o ódio dos progressistas. Em suas aulas, contava o Professor que durante o Vaticano I um bispo velho e surdo, mas com uma doutrina muito correta se manifestava ora aplaudindo, ora protestando contra os discursos que eram feitos pelos Bispos. Alguém então o questionou como ele sabia de que forma se manifestar se era surdo. Ele então respondeu “é muito simples eu olho monsenhor Dupanloup, quando ele aplaude, eu critico, quando ele critica, eu aplaudo”. Assim, Bento XVI é muito criticado pelos modernistas e, portanto, é nossa obrigação aplaudi-lo sempre que possível. Quantas traições por parte dos modernistas não tem Bento XVI sofrido? Basta lembrar do padre Lombardi, seu porta voz, desmentido o Papa em tantas ocasiões.
Providencialmente, enquanto revisava este artigo apareceu em um site de importância nacional, com destaque, um artigo criticando o Papa:
“Os leitores mais atentos e fiéis do Balaio já sabem que não simpatizo muito com o papa Bento 16, o ultra conservador líder religioso alemão que está fazendo de tudo para esvaziar os templos da Igreja Católica”.
O autor é um esquerdista, cuja fraqueza intelectual e  parcialidade me dispensam de citá-lo nominalmente, mas vale a pena perguntar quando foi a última vez que a esquerda chamou um Papa de “ultra conservador”? Talvez tivéssemos que voltar aos tempos de São Pio X...
O ódio que setores progressistas demonstram a Bento XVI só é comparável à raiva que alguns setores tradicionalistas têm ao mesmo Papa. Assim os sedevacantistas se espalham como nunca, apesar de ser inegável que nenhum papa, desde o Concílio Vaticano II, tenha feito tanto pela Missa Antiga como Bento XVI. Apesar de todas as vantagens que obtivemos durante o reinado de Bento XVI, esses setores cada vez mais radicalizam sua oposição ao Papa, e nos dias de hoje já temos os “eclesiovacantistas”: segundo estes, não só a Sé de Pedro é vacante, mas não existem mais bispos no mundo todo ou nem mesmo um clero visível. Como ensina São Tomás, a “forma” de uma sociedade é dada pela  sua autoridade. Os sedevancantistas destroem a  autoridade do Papado, pois acreditam que têm direito de destituí-lo. Ao fazer isto, para eles, a  Igreja  perde sua “forma”.
De forma contrária, é curioso como alguns dos chamados tradicionalistas esquecem do bem feito por Bento XVI e somente ressaltam as suas falhas. Mas quando se trata de seus próprios grupos, agem de maneira diversa. Veja-se, por exemplo, o caso de Dom Williamson. Quanto mal não fizeram suas declarações exatamente no momento em que o Papa preparava o levantamento das excomunhões dos Bispos da Fraternidade? Quando ainda tínhamos contato com o Padre Beauvais, na época o superior da FSSPX para a América do Sul, ele comentou que existiam até padres gnósticos na Fraternidade. Nada disto é lembrado, os simpatizantes da FSSPX somente ressaltam as suas próprias atividades em favor da Missa Antiga, o que é sem dúvida um trabalho excelente.

Também foi a atuação de Bento XVI no caso da Missa que levou o Professor, e leva a nós hoje, a termos esperança neste Papa, assim como nos dá a convicção de que um retorno encontra-se em curso. E nesse caso basta lembrarmos o Motu Proprio Summorum Pontificum sobre a liturgia tridentina. Lembro-me do tempo em que os Padres em São Paulo se recusavam sequer a falar sobre a Missa Antiga. Hoje, somente na cidade de São Paulo, sem contar as cidades vizinhas, são ao menos cinco lugares onde essa Missa pode ser assistida de forma pública. E só não temos mais locais porque é difícil encontrarmos padres que estejam dispostos a celebrá-la, e não porque haja qualquer impedimento de Roma. Ademais, a afirmação de que a Missa Antiga nunca foi proibida nos tirou da posição de desobedientes, e colocou nesta situação todos aqueles que se recusaram em atender, no passado, a nossos pedidos, justificando assim o nosso trabalho de anos e transformando em um ato ilegal toda a perseguição que sofremos por causa da Missa.
Outro ponto que deixa claro este retorno foi a criação do IBP. Um Instituto que tem como rito exclusivo o missal de 1962 e que deve fazer criticas construtivas ao Vaticano II, deixa claro a todos que o Vaticano II não é um concílio infalível e que se pode pertencer a Igreja Católica sem assistir à Missa Nova. É uma pena que tantos daqueles que se atribuem um papel importante na luta pela “tradição” lhe façam tanta oposição.
Convivi trinta e oito anos com o Professor. Será que, apesar de ter um temperamento tão diferente do dele, este convívio também teria me transformado em um otimista? Mais do que todos os fatos citados anteriormente, nossa esperança, do Professor e a minha, está em que, apesar de todas as misérias humanas, inclusive as nossas, jamais deixamos de acreditar na Igreja. Isto significa acreditar na promessa de Cristo a Ela: “as portas do inferno não prevalecerão contra ti”. São Pio X na encíclica  Vehementer Nos, lamentando a lei francesa que determinou a separação entre a Igreja e o Estado, profetizou que a lei acarretaria prejuízos para a Igreja e para a França, acrescentando, entretanto, que sua preocupação com a França era muito maior do que com a Igreja, pois a promessa de perenidade feita por Cristo se dirigiu à Igreja e não à França. Também nós, apesar de nos preocuparmos com a situação da Igreja, devemos estar muito mais atentos com nossas próprias fraquezas, pois a promessa de Cristo foi feita para a Igreja e não para a Montfort ou para FSSPX. Assim, é somente na Igreja que repousa nossa esperança.
Que Nossa Senhora de Fátima nos ajude a manter a fé apesar de ver que a “Arca” está prestes a tombar. Que não tenhamos a ousadia de tocá-la, e que continuemos acreditando que Nosso Senhor, mesmo dormindo, move os céus e a terra, e também pode mover o Papa, que sempre foi e continua sendo o seu representante.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cardeais afirmam que abusos litúrgicos enfraquecem a Fé

Um enfraquecimento da fé em Deus, um aumento do egoísmo e uma queda no número de pessoas indo à Missa pode ser causado pelos abusos litúrgicos ou a Missas que não são reverentes, afirmaram dois Cardeais e um consultor do Vaticano.

O Cardeal Burke e o Cardeal espanhol Antonio Canizares Llovera, prefeito da Congregação para o Culto Divino e os Sacramentos, estiveram ontem no lançamento de um livro em Roma.
O livro, publicado somente em italiano, foi escrito pelo Pe. Nicola Bux, o qual serve como consultor para as Congregações da Doutrina da Fé e para a Causa dos Santos e ao Ofício encarregado das liturgias papais.
A tradução do título do livro do Pe. Bux seria “Como ir à Missa e não perder a sua fé”.


O Cardeal americano Raymond Burke, chefe da suprema corte do Vaticano, asseverou: “Se nós errarmos pensando que somos o centro da liturgia, a Missa há de levar à perda da fé”.   O Cardeal Burke disse àqueles reunidos para a apresentação do Pe. Bux que “os abusos litúrgicos levam a sérios danos à fé dos Católicos”. Infelizmente, afirmou ele, sacerdotes e bispos demais tratam as violações às normas litúrgicas como algo que não é importante quando, com efeito, são “sérios abusos”.

O Cardeal Cañizares disse que embora o título do livro seja provocativo, demonstra um pensamento do qual ele compartilha. “Participar da Eucaristia pode enfraquecer ou nos fazer perder a fé se não entrarmos nela apropriadamente” e se a liturgia não é celebrada de acordo com as normas da Igreja. “Isto é verdadeiro tanto em relação à forma Ordinária quanto à Extraordinária do único Rito Romano”, disse o Cardeal. O Cardeal Cañizares afirmou que uma época em que tantas pessoas estão vivendo como se Deus não existisse, elas têm necessidade de uma verdadeira celebração eucarística para lembrá-las de que tão somente Deus deve ser adorado e que o verdadeiro sentido na vida humana vem somente do fato de que Jesus deu sua vida para salvar o mundo.

Pe. Bux disse que grande número de católicos modernos pensa que a Missa é algo que o sacerdote e o povo fazem juntos quando, na verdade, é algo que somente Jesus faz. “Se você vai à Missa em um local e depois vai à Missa em outro, você não encontrará a mesma Missa. Isto significa que esta não é a Missa da Igreja Católica, à qual as pessoas têm direito, mas é somente a Missa deste ou daquele padre”, disse ele.
Fonte: Cindy Wooden no Catholic Herald.co.uk
Tradução Montfort

terça-feira, 1 de março de 2011

Adeusinho, Cardeal Mahony...


As duas faces do Cardeal Mahony: à esquerda, “Hereges e pró-aborto, sejam bem vindos!”, à direita, “Tradicionalistas, fora!”

Finalmente aconteceu! O Cardeal Roger Mahony não é mais, oficialmente, desde hoje, o arcebispo de Los Angeles (California) a maior diocese católica dos Estados Unidos. O Santo Padre aceitou hoje mesmo sua demissão por limite de idade e com uma grande celeridade, pois o Cardeal chegou aos 75 anos no dia 27 de fevereiro: dois dias de prazo... Evidentemente, ninguém pensou em prorrogação em Roma! De todo modo, já se sabia que não haveria “interregno” já que o arcebispo de San Antonio (Texas), Dom José H. Gomez tinha sido nomeado coadjutor em 6 de abril de 2010. Na véspera do anúncio oficial pela Santa Sé, uma cerimônia simbólica se desenrolou na horrível catedral Our Lady of the Angels, antecipando de um diazinho o anúncio oficial de Roma. O Cardeal Mahony transmitiu ontem sua cruz episcopal a Dom Gomez, no próprio dia do 75º. aniversário do Cardeal.


Catedral Our Lady of the Angeles
À direita, uma Nossa Senhora muito estranha 

 



O Cardeal Mahony, nomeado bispo em 1975, fazia parte da legião de bispos liberais (moderados ou ultra...) conduzidos ao episcopado pelo Núncio da época, Dom Jadot, prelado que era também extremamente liberal... [Será que não havia, na época, liberais também em Roma?] Um dos méritos de João Paulo II foi o de ter em seguida conduzido uma política de nomeações muito mais ortodoxas para i-los substituindo gradualmente. Política que Sua Santidade Bento XVI está levando hoje a seu termo.

Com Mahony, elevado à Sé episcopal de Los Angeles em 1985, uma página é virada para a Igreja local. Mesmo os mais favoráveis ao Cardeal Mahony, e eu penso aqui no Los Angeles Times, falam de um balanço “com nuances”. Ou seja... O balanço do quarto de século do Cardeal Mahony ainda deve ser feito. Objetivamente falando não vai ser nada positivo.



Daniel Hamiche
postado em  Americatho em 1º. De março de 2011.
http://www.americatho.org/episcopat/cardinal-mahony-bye-bye%e2%80%a6

Tradução Montfort